sábado, 7 de maio de 2011

«Tributo a Camões, um Poeta Genial», Exposição Aberta, Mês de Maio

"Largo de Camões", Abel Manta, Óleo sobre tela, 1964


 
Camões




Luís de Camões – Retrato em cobre de Fernando Gomes. É o único retrato do poeta reproduzido do natural.


 

Soneto de Camões



 
1.ª Edição d'Os Lusíadas de Camões, 1572



 
Medalha do IV Centenário da Morte de Camões



 
 III Centenário da Morte de Camões, 1880



 
“Os últimos momentos de Camões”, Bordalo Pinheiro


 

“Camões na Prisão de Goa”, Maureaux




“Camões e as Ninfas”, Óleo sobre tela, Columbano Bordalo Pinheiro



 

Camões na Gruta de Macau, Francisco Augusto Metrass
                                                                                     



“A Morte de Camões” (desenho a carvão e giz branco sobre papel), Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa




 
Túmulo de Camões, Mosteiro dos Jerónimos





Praça Luís de Camões, 1949





Camões, Filme de Leitão de Barros





Selo dos Correios





Jardim de Camões, Constância




 
Camões, Constância




 
Desenho de Camões





 
Júlio Pomar, Azulejos da Estação de Metro, Alto dos Moinhos




 
Caricatura de Camões, Ricardo Campos





 
Camões, Retrato de Fernão Gomes (in Torre do Tombo)




 
Luís Vaz de Camões, François Geratd


terça-feira, 3 de maio de 2011

10 de Junho de 1580

No dia 10 de Junho de 1580, faleceu o Príncipe dos Poetas Portugueses.
O túmulo, onde permanecem os restos mortais de Luís Vaz de Camões, pode visitar-se no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém.
Gonçalo Coutinho mandou esculpir na sua pedra o seguinte:
"Aqui Jaz  Luís de Camões, Príncipe dos Poetas do seu Tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu."
Vale a pena, amigos, pensarmos nisto!

10 de Junho, Dia de Camões

Começou por ser um feriado do Município de Lisboa e foi Abel Salazar que decretou o 10 de Junho como um Feriado Nacional, homenageando, deste modo, o tributo de Camões à sua Pátria e ao seu Povo. 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

«Camões», Filme de Leitão de Barros

José Leitão de Barros realizou um filme sobre a vida e a obra do maior poeta português de todos os tempos. Este filme foi apresentado na primeira edição do Festival de Cinema de Cannes, realizado em 1946. O papel de Camões foi representado por António Vilar.

domingo, 1 de maio de 2011

«Os Lusíadas» de Camões

Camões escreveu o livro que enobrece Portugal até à medula!
«Os Lusíadas» apresentam uma parte muito significativa da História de Portugal, em verso. Ao longo de 10 cantos e 1102 estâncias de oito versos, sendo os versos, maioritariamente, decassílabos heróicos, Camões apresenta o que temos de melhor a nível nacional: A Língua Portuguesa!
Só Camões que foi um homem absolutamente genial, só Camões, um poeta genial,  era capaz de pensar e compor um poema que é o melhor monumento de Portugal.
«Os Lusíadas» são a nossa «pedra angular», sem dúvida!
A primeira edição d'«Os Lusíadas» foi em 1572 e, hoje, estuda-se Camões em quase todas as universidades do mundo.
Absolutamente, Camões, um poeta genial!
Luís Vaz de Camões é a honra do Povo Português!

sábado, 30 de abril de 2011

«Os Lusíadas de Calções»

A Companhia de Teatro O Sonho representou «Os Lusíadas de Calções».
Um espectáculo que apresenta uma adaptação d'Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, realizada por Ruy Pessoa.
«Os Lusíadas de Calções» constituem uma excelente dramatização do grandioso poema épico de Camões. Os actores desenvolvem um papel extraordinário e unem aquilo que é sério a uma faceta mais divertida e o resultado é um espectáculo magnificamente bem composto e equilibrado, dando-nos uma excelente visão da épica camoniana.
Nós recomendamos este espectáculo, inspirado n'Os Lusíadas de Camões.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

João Baião representa Camões

A peça "A Casa da Fama" estreou no dia 27 de Abril, no Teatro Armando Cortez.
João Baião, para além de representar o papel de Camões, é ainda encenador desta peça.
No elenco, participam também Ana Brito e Cunha e Mané Ribeiro.
Os autores são Frederico Pombares, Henrique Dias e Roberto Pereira.
O público pode assistir à representação de Quinta a Sábado às 21.30 horas e ao Domingo às 17 horas.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Constância, Terra Natal de Luís de Camões

Onde nasceu Camões, o poeta genial de todos os tempos?
Camões nasceu em Constância.

Constância pertence ao Distrito de Santarém. O topónimo de Constância foi atribuído pela Rainha D. Maria II, em 1833.
Para além de ser a terra natal de Luís Vaz de Camões, tem muitos outros motivos para ser visitada, nomeadamente as pessoas que são extremamente simpáticas e acolhedoras, a gastronomia dá água na boca e há muito para ver e visitar, por exemplo, o Observatório astronómico de Constância, o Pelourinho, a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia de Constância.
Nós vimos isto tudo no Programa das Festas da RTP1, que foi realizado em directo de Constância, e gostámos muito!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dicionário de Luís de Camões, Professor Aguiar e Silva

O Dicionário de Luís de Camões da Editorial Caminho constitui uma obra de referência para o estudo camoniano. Esta obra foi coordenada pelo Professor Aguiar e Silva e teve a colaboração de mais de 60 especialistas portugueses e estrangeiros.
O Professor Aguiar e Silva referiu que este dicionário "irá permanecer durante muitos anos como um marco nos estudos camonianos".
O Professor, camoniano até à medula, tem vários estudos sobre o poeta e sobre a sua obra. Destacamos os seguintes:
Camões, Labirintos e Fascínios (1994);
A Lira Dourada e a Tuba Canora: Novos Ensaios Camonianos (2008);
Jorge de Sena e Camões. Trinta Anos de Amor e Melancolia (2010).
Não podemos esquecer que o Professor Aguiar e Silva também coordenou a criação do Instituto Camões.

terça-feira, 26 de abril de 2011

III - A Memória de Camões e/ou Camões na Memória

A herança de Camões é vastíssima. A sua obra está viva na nossa cultura, na nossa língua, na nossa história e no nosso povo.
O legado que nos deixou tem sido, ao longo dos séculos, um manâncial à disposição de todos. São inúmeros os autores estrangeiros a apresentarem nas suas obras relações de intertextualidade com Camões. Por outro lado, os autores portugueses que, nas suas obras, dedicam poemas ou textos ou, simplesmente, fazem referências inter e intra-textuais são, como tivemos ocasião de verificar, ao longo do nosso estudo, muitos, muitos!
O dia 10 de Junho, Dia de Portugal e de Camões, é também um pequeno tributo ao enorme talento deste homem singularmente genial.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

II - Significado do Prémio Camões

O Prémio Camões foi instituído em 1988, com o acordo dos governos de Portugal e do Brasil.
Este prémio distingue os autores de língua portuguesa que fazem jus à frase pessoana: "A minha pátria é a língua portuguesa.", ou seja, aqueles que "por obras valerosas", sem faltar o "engenho e arte", "Se vão da lei da morte libertando".
É, sem dúvida, um pequeno tributo ao Príncipe dos Poetas Portugueses!

Quem já recebeu o Prémio Camões?

1989, Miguel Torga;
1990, João Cabral de Melo Neto;
1991, José Craveirinha;
1992, Vergílio Ferreira;
1993, Rachel de Queiroz;
1994, Jorge Amado;
1995, José Saramago;
1996, Eduardo Lourenço;
1997, Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos);
1998, António Cândido de Mello e Sousa;
1999, Sophia de Mello Breyner Andresen;
2000, Autran Dourado;
2001, Eugénio de Andrade;
2002, Maria Velho da Costa;
2003, Rubem Fonseca;
2004, Agustina Bessa-Luís;
2005, Lygia Fagundes Telles;
2006, José Luandino Vieira;
2007, António Lobo Antunes;
2008, João Ubaldo Ribeiro;
2009, Arménio Vieira;
2010, Ferreira Gullar;
2011, Manuel António Pina.

domingo, 24 de abril de 2011

I - Camões, Ontem, Hoje e Sempre

Luís Vaz de Camões foi, certamente, um dos mendigos mais sábios, em Portugal.
Como é possível um homem tão ilustre passar a vida toda sem ter/ver o seu talento, o seu trabalho (re)conhecido?
Fica aqui a pergunta, pois a nós causa-nos grande perplexidade! Como é possível ninguém o ter compreendido, ninguém foi capaz de compreendê-lo inteiramente, porque ele era grande para os do seu tempo!
Pois, na nossa perspectiva,  o que lhe foi atribuído, em vida, foi manifestamente insuficiente.
Só Jau compreendeu, plenamente, a sua densidade humana e foi capaz de mendigar pão e sopa, para que o Príncipe dos Poetas não morresse de fome!
Até quando teimaremos nesta falta de atenção a tudo?

sábado, 23 de abril de 2011

23 de Abril, Camões em Diálogo com Ana Hatherly

Leonorana

«Descalça vai para a fonte
  Leonor pela verdura
  Vai formosa e não segura» Camões


Variação II

quando leonor pela manhã estava nua
acorda e sente essa verdura irmã da
formosura das fontes e da verdura
estende o pé e pisa o chão descalça
e treme de verdura pela formosura da
manhã primeiro jacto da fonte da verdura
seu pé descalço treme de frio como tremem
as faces da verdura abrindo suas bocas
à aragem fria da manhã segura como a
fonte segura da verdura da aurora e nua
como leanor fremente pela verdura e tão
formosa como a fonte que irrompe de
súbito como o dia estende o pé descalço
para fora do leito da fundura da noite
em que dormem as fontes a verdura a
formosura e leanor insegura ergue-se a
caminho pela verdura e na verdura colhe
formosura vai para a fonte nua

Ana Hatherly, Anagramático




23 de Abril, Dia Mundial do Livro

Hoje, é o Dia Mundial do Livro e é o dia em que termina o Festival Camoniano, iniciado no dia 21 de Março, Dia Mundial da Poesia.
Ao longo deste tempo, realizámos vários trabalhos sobre Luís Vaz de Camões e sobre a sua poesia.
Através do Poema do Dia, organizámos uma espécie de antologia camoniana pessoal que muito nos enobreceu.
Por outro lado, Camões em Diálogo com outro poeta fez-nos compreender a extensão de poetas/escritores que admiram Camões e que, por isso, escreveram para o homenagear.
São tantos que foi difícil escolher, por isso, optámos por aqueles que gostámos mais de ler.

22 de Abril, Poema do Dia

Em prisões baixas fui um tempo atado,
vergonhoso castigo de meus erros;
inda agora arrojando levo os ferros
que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.

Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
que Amor não quer cordeiros, nem bezerros;
vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
parece-me qu'estava assi ordenado.

Contentei-me com pouco, conhecendo
que era o contentamento vergonhoso,
só por ver que cousa era viver ledo.

Mas minha estrela, que eu já'gora entendo,
a Morte cega, e o Caso duvidoso,
me fizeram de gostos haver medo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

21 de Abril, Poema do Dia

Amor, co a esperança já perdida,
teu soberano templo visitei;
por sinal do naufrágio que passei,
em lugar dos vestidos, pus a vida.

Que queres mais de mim, que  destruída
me tens a glória toda que alcancei?
Não cuideis de forçar-me, que não sei
tornar a entrar onde não há saída.

Vês aqui alma, vida e esperança,
despojos doces de meu bem passado,
enquanto quis aquela que eu adoro:

nelas podes tomar de mim vingança;
e se inda não estás de mim vingado,
contenta-te com as lágrimas que choro.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

20 de Abril, Poema do Dia

Cara minha inimiga, em cuja mão
pôs meus contentamentos a ventura,
faltou-te a ti na terra sepultura,
porque me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
a tua peregrina fermosura;
mas, enquanto me a mim a vida dura,
sempre viva em minh'alma te acharão.

E se meus rudos versos podem tanto
que possam prometer-te longa história
daquele amor tão puro e verdadeiro,

celebrada serás sempre em meu canto;
porque enquanto no mundo houver memória,
será minha escritura teu letreiro.

terça-feira, 19 de abril de 2011

19 de Abril, Poema do Dia

Tomou-me vossa vista soberana
adonde tinha armas mais à mão,
por mostrar que quem busca defensão
contra esses belos olhos, que s'engana.

Por ficar da vitória mais ufana
deixou-me armar primeiro da Razão;
cuidei de me salvar, mas foi em vão,
que contra o Céu não val defensa humana.

Mas porém se vos tinha prometido
o vosso alto destino esta vitória,
ser-vos tudo bem pouco está sabido.

Que, posto que estivesse apercebido,
não levais de vencer-me grande glória:
maior a levo eu de ser vencido.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

18 de Abril, Poema do Dia

Leda serenidade deleitosa,
que representa em terra um paraíso;
entre rubis e perlas doce riso,
debaixo d'ouro e neve, cor de rosa;

presença moderada e graciosa,
onde ensinandomestão despejo e siso
que se pode por arte e por aviso,
como por natureza ser fermosa;

fala de quem a morte e a vida pende,
rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
repouso nela alegre e comedido;

estas as armas são com que me rende
e me cativa Amor; mas não que possa
despojar-me da glória de rendido.

domingo, 17 de abril de 2011

17 de Abril, Camões em Diálogo com Jorge de Sena

Uma Estrofe de Camões

Alma minha
gentil
que te partiste

tão cedo desta vida descontente
desta vida descontente tão cedo
descontente tão cedo desta vida
desta vida tão cedo descontente
descontente desta vida tão cedo
tão cedo descontente desta vidas

sábado, 16 de abril de 2011

16 de Abril, Camões em Diálogo com Sophia de Mello Breyner Andresen

Soneto à Maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é o meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que m'o dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

15 de Abril, Poema do Dia

Ditoso seja aquele que somente
se queixa de amorosas esquivanças;
pois por elas não perde as esperanças
de poder n'algum tempo ser contente.

Ditoso seja quem, estando ausente,
não sente mais que a pena das lembranças;
porqu', inda que se tema de mudanças,
menos se teme a dor quando se sente.

Ditoso seja, enfim, qualquer estado
onde enganos, desprezos e isenção
trazem o coração atormentado.

Mas triste quem se sente magoado
d'erros em que não pode haver perdão,
sem ficar n'alma a mágoa do pecado.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

14 de Abril, Poema do Dia

Quando de minhas mágoas a comprida
maginação os olhos me adormece,
em sonhos aquel'alma me aparece
que para mim foi sonho nesta vida.

Lá numa soidade, onde estendida
a vista pelo campo desfalece,
corro par'ela; e ela então parece
que mais de mim se alonga, compelida.

Brado:_Não me fujais, sombra benina!
Ela (os olhos em mim cum brando pejo,
como quem diz que já não pode ser),

torna a fugir-me; e eu, gritando:_Dina...
antes que diga mene, acordo, e vejo
que nem um breve engano posso ter.

13 de Abril, Poema do Dia

Conversação doméstica afeiçoa,
ora em forma de boa e sã vontade,
ora d'uma amorosa piedade,
sem olhar qualidade de pessoa.

Se despois, porventura, vos magoa
com desamor e pouca lealdade,
logo vos faz mentira da verdade
o brando Amor, que tudo em si perdoa.

Não são isto que falo conjecturas,
que o pensamento julga na aparência,
por fazer delicadas escrituras.

metido tenho a mão na consciência,
e não falo senão verdades puras
que m'ensinou a viva experiência.

terça-feira, 12 de abril de 2011

12 de Abril, Poema do Dia

Correm turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florecidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.

Passou o verão, passou o ardente estio,
umas cousas por outras se trocaram;
os fementidos Fados já deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.

Tem o tempo sua ordem já sabida;
o mundo, não, mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opiniões, natura e uso
fazem que nos pareça desta vida
que não há nela mais que o que parece.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

11 de Abril, Poema do Dia

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda m'enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
e se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos!, que vos vades,
porque estes tão ligeiros que passais,
nem todos para um gosto são iguais,
nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado
que quási é outra cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.

domingo, 10 de abril de 2011

10 de Abril, Camões em Diálogo com Herberto Helder

Amiguinhos, hoje, escolhemos um poema de Herberto Helder e também apresentamos o soneto camoniano que está na base deste diálogo de poemas. Esperamos que gostem e apreciem!

Boas Leituras!

P.S. Podem continuar a acompanhar o «Poema do Dia», aqui, no blogue!

 

"Transforma-se o amador na coisa amada"


«Transforma-se o amador na coisa amada», com seu
feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si.
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas.

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
a coluna vertebral e o espírito
das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.
O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada.

Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
que escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
a arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve
e vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
anterior de amor.

E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
do amor. Enquanto em cima
o silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo e do amor.

Herberto Helder



Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minh' alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia:
(e) o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.

Luís de Camões

sábado, 9 de abril de 2011

9 de Abril, Camões em Diálogo com Miguel Torga

Miguel Torga dedica esta ode aos poetas, ao Príncipe de todos os poetas, que é Luís Vaz de Camões, o Poeta de Língua Portuguesa, por excelência. Leiam e apontem os traços de intertextualidade, depois falamos, na aula de Estudo Acompanhado.


Aos Poetas


Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.

E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.

Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da torre de Babel.

Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão.

Miguel Torga, in 'Odes'


sexta-feira, 8 de abril de 2011

8 de Abril, Poema do Dia

Eu cantei já, e agora vou chorando
o tempo que cantei tão confiado;
parece que no canto já passado
se estavam minhas lágrimas criando.

Cantei; mas se me alguém pergunta: _Quando?
_Não sei; que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado
que o passado, por ledo, estou julgando.

Fizeram-me cantar, manhosamente,
contentamentos não, mas confianças;
cantava, mas já era ao som dos ferros.

De quem me queixarei, que tudo mente?
Mas eu que culpa ponho às esperanças
onde a Fortuna injusta é mais que os erros?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

7 de Abril, Poema do Dia

O céu, a terra, o vento sossegado...
As ondas, que se estendem pela areia...
Os peixes, que no mar o sono enfreia...
O nocturno silêncio repousado...

O pescador Aónio, que, deitado
onde co vento a água se meneia,
chorando, o nome amado em vão nomeia,
que não pode ser mais nomeado:

_Ondas (dezia), antes que Amor me mate
torna-me a minha Ninfa, que tão cedo
me fizestes à morte estar sujeita.

Ninguém lhe fala; o mar de longe bate,
move-se brandamente o arvoredo;
leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

6 de Abril, Poema do Dia

Dizei, Senhora, da Beleza ideia:
para fazerdes esse áureo crino,
onde fostes buscar esse ouro fino?
de que escondida mina ou de que veia?

Dos vossos olhos essa luz Febeia,
esse respeito, de um império dino?
Se o alcançastes com saber divino,
se com encantamentos de Medeia?

De que escondidas conchas escolhestes
as perlas preciosas orientais
que, falando, mostrais no doce riso?

Pois vos formastes tal, como quisestes,
vigiai-vos de vós, não vos vejais,
fugi das fontes: lembre-vos Narciso.

terça-feira, 5 de abril de 2011

5 de Abril, Poema do Dia

Cá nesta Babilónia, donde mana
matéria a quanto mal o mundo cria;
cá onde o puro Amor não tem valia,
que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

cá, onde o mal se afina, e o bem se dana,
e pode mais que a honra e tirania;
cá, onde a errada e cega Monarquia
cuida que um nome vão a desengana;

cá, neste labirinto, onde a nobreza
com esforço e saber pedindo vão
às portas da cobiça e da vileza;

cá neste escuro caos de confusão,
cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

4 de Abril, Poema do Dia

Aqueles claros olhos que, chorando
ficavam quando deles me partia,
agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estarão em mim cuidando?

Se terão na memória, como ou quando
deles me vim tão longe de alegria?
Ou s'estarão aquele alegre dia
que torne a vê-los, n'alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão co as aves e cos ventos?

Oh! bem-aventurados fingimentos,
que nesta ausência tão doces enganos
sabeis fazer aos tristes pensamentos!

domingo, 3 de abril de 2011

3 de Abril, Camões em Diálogo com António Gedeão

António Gedeão escreveu o «Poema da Auto-estrada», glosando com a cantiga camoniana, intitulada «Descalça vai para a fonte», para homenagear Camões, o Príncipe dos Poetas Lusos.
Caros colegas, deliciem-se com os poemas, comparando-os! Depois falamos!






Poema da Auto-estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

António Gedeão, in 'Máquina de Fogo'

Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamelote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura.
vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
cabelos d' ouro o  trançado,
fita de cor d' encarnado,
tão linda que o mundo espanta;
chove nela graça tanta,
que dá graça à fermosura.
vai fermosa, e não segura.

                  Luís de Camões

sábado, 2 de abril de 2011

2 de Abril, Camões em Diálogo com Almeida Garrett

Almeida Garrett escreveu um longo poema lírico-narrativo dedicado a Luís Vaz de Camões, do qual extraímos o seguinte:


Saudade! gosto amargo de infelizes,
(...)
_Mas dor que tem prazeres_ Saudade!
(...)
Do leito... Ai! tarde vens, auxílio do homem.
Os olhos turvos para o céu levanta;
E já no arranco extremo: _"Pátria, ao menos
juntos morremos..." E expirou coa pátria.
Onde jaz, Portugueses, o moimento
Que de imortal cantou as cinzas guarda?
Homenagem tardia lhe pagastes
No sepulcro sequer... Raça d'ingratos!
Nem isso! nem um túmulo, uma pedra,
Uma letra singela! _ A vós meu canto,
Canto de indignação, último acento
Que jamais sairá da minha lira,
A vós, ó povos do universo, o envio.
Ergo-me a delatar tamanho crime,
E eterna a voz me gelará nos lábios.
Lira da minha pátria onde hei cantado
O lusitano _envilecido_ nome,
Antes que nesse escolho, em praia estranha,
Quebrada te abandone, este só brado
Alevanta final e derradeiro:
Nem o humilde lugar onde repoisam
As cinzas de Camões, conhece o Luso.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

1 de Abril, Poema do Dia

Quando a suprema dor muito me aperta
se digo que desejo esquecimento,
é força que se faz ao pensamento,
de que a vontade livre desconcerta.

Assi, de erro tão grave me desperta
a luz do bem regido entendimento,
que mostra ser engano ou fingimento
dizer que em tal descanso mais se acerta.

Porque essa própria imagem, que na mente
me representa o bem de que careço,
faz-mo de um certo modo ser presente.

Ditosa é, logo, a pena que padeço,
pois que da causa dela em mim se sente
um bem que, inda sem ver-vos, reconheço.

quinta-feira, 31 de março de 2011

31 de Março, Poema do Dia

Verdade, Amor, Razão, Merecimento,
qualquer alma farão segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte,
têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento
e não sabe a que causa se reporte;
mas sabe que o que é mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.

Doctos varões darão razões subidas,
mas são experiências mais provadas,
e por isso é milhor ter muito visto.

Cousas há i que passam sem ser cridas
e cousas cridas há sem ser passadas,
mas o milhor de tudo é crer em Cristo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

30 de Março, Poema do Dia

A fermosura desta fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos oferece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo m'enoja e m'avorrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

terça-feira, 29 de março de 2011

29 de Março, Poema do Dia

No tempo que de Amor viver soía,
nem sempre andava ao remo ferrolhado;
antes agora livre, agora atado,
em várias flamas variamente ardia.

Que ardesse num só fogo, não queria
o Céu, porque tivesse exprimentado
que nem mudar as causas ao cuidado
mudança na ventura me faria.

E se algum pouco tempo andava isento,
foi como quem co peso descansou,
por tornar a cansar com mais alento.

Louvado seja Amor em meu tormento,
pois para passatempo seu tomou
este meu tão cansado sofrimento!

segunda-feira, 28 de março de 2011

28 de Março, Poema do Dia

No mundo quis um tempo que se achasse
o bem que por acerto ou sorte vinha;
e, por exprimentar que dita tinha,
quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.


Mas por que meu destino me mostrasse
que nem ter esperanças me convinha,
nunca nesta tão longa vida minha
cousa me deixou ver que desejasse.


Mudando andei costume, terra e estado,
por ver se se mudava a sorte dura;
a vida pus nas mãos de um leve lenho.


Mas (segundo o que o Céu me tem mostrado)
já sei que deste meu buscar ventura,
achado tenho já, que não a tenho.

domingo, 27 de março de 2011

27 de Março, «Camões em Diálogo com Sophia de Mello Breyner Andresen»

Gruta de Camões

Dentro de mim sobe a imagem dessa gruta
Cujo silêncio ainda escuta
Os teus gestos e os teus passos.
Aí, diante do mar como tu transbordante

De confissão e segredo,
Choraste a face pura
Das brancas amadas
Mortas tão cedo

sábado, 26 de março de 2011

26 de Março, «Camões em Diálogo com Bocage»

«Camões visto por outros poetas portugueses», é este tema que vamos abordar aos fins-de-semana. Hoje, escolhemos um poema de Bocage, dedicado a Camões.

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Ludíbrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu és tu... Mas, oh tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.

sexta-feira, 25 de março de 2011

25 de Março, Poema do Dia

Oh! como se me alonga de ano em ano,
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.

quinta-feira, 24 de março de 2011

24 de Março, Dia do Estudante

À Memória do aluno, do estudante universitário, do estudioso ilustre, do diligente autodidacta e do Poeta Genial, Luís Vaz de Camões.

24 de Março, Poema do Dia, «Doces lembranças da passada glória»

Doces lembranças da passada glória,
que me tirou fortuna roubadora,
deixai-me repousar em paz uma hora,
que comigo ganhais pouca vitória.

Impressa tenho n'alma larga história
deste passado bem que nunca fora;
ou fora, e não passara; mas já agora
em mim não pode haver mais que a memória.

Vivo em lembranças, mouro d'esquecido,
de quem sempre devera ser lembrado,
se lhe lembrara estado tão contente.

Oh! quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
se conhecer soubera o mal presente.

quarta-feira, 23 de março de 2011

23 de Março, Poema do Dia

Um mover d'olhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;

um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
uma pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;

um encolhido ousar; uma brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente  sofrimento;

esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento. 

terça-feira, 22 de março de 2011

22 de Março, Festa da Primavera

Hoje, um poema de Camões deu início à Festa da Primavera, na aula de Língua Portuguesa. O poema camoniano seleccionado foi «Está o lascivo e doce passarinho». A nossa Professora sugeriu que podiam ser elaborados trabalhos sobre o(s) poema(s) apresentado(s) por nós. Além disso, o importante mesmo era que nós lêssemos a obra camoniana e o nosso trabalho contribuía para estimular a leitura de Camões.

22 de Março, Poema do Dia, «Está o lascivo e doce passarinho»

Está o lascivo e doce passarinho
com o biquinho as penas ordenando,
o verso, sem medida, alegre e brando,
espedindo no rústico raminho;

o cruel caçador (que do caminho
se vem calado e manso desviando)
na pronta vista a seta endireitando,
lhe dá no Estígio lago eterno ninho.

Destarte o coração, que livre andava,
(posto que já de longe destinado)
onde menos temia, foi ferido.

Porque o frecheiro cego me esperava,
para que me tomasse descuidado,
em vossos claros olhos escondido.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Festival Camoniano de 21 de Março a 23 Abril

O Festival Camoniano inicia a 21 de Março, Dia Mundial da Poesia e termina a 23 de Abril, Dia Mundial do Livro.
Ao longo destes dias, serão realizadas, por nós, diversas actividades e trabalhos, subordinados ao tema: «Camões, um poeta genial». Todos os dias será apresentado o poema camoniano do dia.

Dia Mundial da Poesia

Para assinalar o Dia Mundial da Poesia, escolhemos poemas de Luís Vaz de Camões, para lermos aos nossos colegas de turma, no âmbito da Semana da Poesia (de 21 a 25 de Março), que a nossa Professora realiza nas nossas aulas de Língua Portuguesa e Estudo Acompanhado.
Para além da Semana da Poesia, decorre, em simultâneo, a Festa da Primavera, por isso, nós, seguimos a orientação da Professora Rosa e, assim, criámos um projecto em que nós os dois, vamos ler sempre, no início de cada aula, um poema camoniano («Poema do Dia») e vamos realizar outras actividades e trabalhos e a isso tudo chamámos Festival Camoniano.

21 de Março, Poema do Dia, «Alegres campos, verdes arvoredos»

Alegres campos, verdes arvoredos,
claras e frescas águas de cristal,
que em vós os debuxais ao natural,
discorrendo da altura dos rochedos;

silvestres montes, ásperos penedos,
compostos em concerto desigual,
sabei que, sem licença de meu mal,
já não podeis fazer meus olhos ledos.

E, pois me já não vedes como vistes,
não me alegrem verduras deleitosas,
nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes,
regando-vos com lágrimas saudosas,
e nascerão saudades de meu bem.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Camões lido no Dia de S.Valentim

Luís Vaz de Camões foi o poeta mais lido e cobiçado pelos alunos e alunas da nossa turma, no Dia de S.Valentim. O poema mais citado, sobretudo pelas meninas, foi:

"O amor é um fogo que arde sem se ver,
  é ferida que doi, e não se sente;
  é um contentamento descontente,
  é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

A Luís Vaz de Camões, o nosso poeta, por excelência, agradecemos este poema que diz tudo aquilo que nós não sabemos dizer.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A temática da mulher na poesia de Camões

A mulher é um dos principais temas da poética camoniana. Há dois tipos de mulher em Camóes: a mulher que se pode ter e a mulher que não se pode ter.
Na linha de Petrarca, Camões define a mulher como uma fonte máxima de inspiração. Este tipo de mulher existe apenas na cabeça do poeta. É a mulher que não se pode ter, só se pensa nela na cabeça.
Por outro lado, na poesia camoniana, encontramos traços bem definidos da mulher simples e bela, com quem, certamente, o poeta se cruzava e lhe servia de mote para escrever. Por exemplo, a Leonor. Este é o tipo de mulher que se pode ter.
Nós estamos a gostar muito de ler a poesia camoniana, porque estamos na fase de observar bem os tipos de mulher e o legado de Camões sobre o assunto é bastante engenhoso.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

À conversa com Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões é, por excelência, o poeta português que mais amou a sua pátria e amou a poesia até às últimas consequências. Vamos tentar conhecê-lo melhor, através da nossa Entrevista Histórica.
O meu nome é Florzinhas e o meu amigo chama-se Pneus. Encontrámos o nosso ilustre Poeta no poema "Gruta de Camões" de Sophia de Mello Breyner Andresen, porque o lemos na Semana da Leitura da nossa escola e dialogámos um pouco. Vamos então passar à entrevista.



Florzinhas:
Saudações poéticas, ilustre Camões!Como tem passado por estas gerações todas?



Camões:
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.



É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.



Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nuã hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uã hora.



Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.




Pneus:
Em que dia veio ao mundo, ilustre Camões?




Camões:
Nasci em Lisboa ou em Coimbra, em 1524 ou 1525, já não me lembro bem. Foi o meu Tio que me disse!




Florzinhas:
Já há valentes anos, já muita coisa mudou e muitas novidades surgiram!




Camões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.



Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.



O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.



E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.




Pneus:
É um poema muito pensado e atemporal! Mas diga-me, é filho de?




Camões:
O meu Pai será sempre Simão Vaz de Camões e minha Mãe Ana de Sá.




Florzinhas:
Onde começou a estudar e quando começou a escrever?




Camões:
Numa das melhores, senão a melhor universidade do país, a Universidade de Coimbra, pelos anos 1531 a 1541, onde o meu Tio  era Chanceler e me auxiliava muito nos estudos. Fui para Lisboa, antes de acabar o curso, porque queria conhecer Lisboa. Sabe, desde muito novo, tenho uma ambição, que é conhecer bem a história do meu povo, a história do meu país. Gosto imenso da História de Portugal, que, aliás me valeu para escrever Os Lusíadas, o meu livro por excelência. Conhecem?



Pneus e Florzinhas:
«As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.»



Camões:
Estou muito comovido!



Florzinhas:
A sua obra é uma honra para o nosso povo! Mas diga-nos! Lá, em Coimbra, há grandes amores!?



Camões:
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.



Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.



Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.



De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!




Pneus:
E a Leonor?



Camões:
Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.



Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.



Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Florzinhas:
O amor é um dos principais temas da sua obra!



Camões:
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.


Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.


Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.


Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.



Pneus:
Que beleza!Quem diria que as palavras assim tão certinhas podiam dizer tanto!
Conte-nos mais sobre a sua vida!



Camões:
Conheci D.Catarina de Ataíde e com ela queria casar, mas devido à minha condição e à condição dela, tive de me afastar. Então resolvi dedicar-lhe muitos poemas, por vós há muito consagrados.Presta atenção a este!
 
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.


Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.


Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.



Florzinhas:
Foi para Ceuta!



Camões:
Depois alistei-me como soldado e parti para Ceuta em 1547, onde perdi um olho, a lutar em favor de D.João III.  Três anos passados e voltei a Portugual. Envolvi-me num duelo com o Gonçalo Borges e estive preso um ano e foi durante esse tempo que iniciei o primeiro canto da minha grande obra!



Pneus:
E como saiu da jaula?



Camões:
Ganhei a minha liberdade com a promessa de embarcar para a Índia e fui parar a Goa em 1553.
Escuta este:
 
Julga-me a gente toda por perdido,
Vendo-me tão entregue a meu cuidado,
Andar sempre dos homens apartado
E dos tratos humanos esquecido.


Mas eu, que tenho o mundo conhecido,
E quase que sobre ele ando dobrado,
Tenho por baixo, rústico, enganado
Quem não é com meu mal engrandecido.


Vá revolvendo a terra, o mar e o vento,
Busque riquezas, honras a outra gente,
Vencendo ferro, fogo, frio e calma;


Que eu só em humilde estado me contento
De trazer esculpido eternamente
Vosso fermoso gesto dentro na alma.


Florzinhas e Pneus:
E depois? E depois?



Camões:
Aí conheci gente de todos os feitios e cores! Foi na viagem de regresso, que o barco em que eu navegava se afundou, no rio Mekong e eu nadei só com um braço até à costa, porque com o outro amarrava a minha grande obra!



Florzinhas:
Mas e depois!? 



Camões:
Depois foi a grande travessia do Atlântico e, finalmente, a chegada a Lisboa em 1569. A seguir tratei da publicação d'Os Lusíadas, cuja primeira edição data de 1572!



Pneus:
Então, teve certamente um grande lucro com a venda dos livros?



Camões:
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.



Pneus:
Pelo menos durante algum tempo!



Camões:
Rapidamente passei a viver na miséria! Se não fosse o Jau, nem sopa comia! Oiçam este poema e compreendam!
 
O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.


A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.


As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.


Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!



Florzinhas:
Foi cruel! Mas, actualmente, o dia 10 de Junho é Dia de Portugal e de Camões! E é feriado e tudo! Lamentamos, em nome de todos, que, durante a sua vida não lhe tenham prestado o apoio necessário, nem o tenham distinguido como merecia! Mas uma coisa é certa, o seu pensamento era demasiado forte e lúcido, para que fosse compreendido, pelos homens do seu tempo.


Camões:

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.



Florzinhas e Pneus:
Estamos muito gratos por esta breve entrevista histórica. Ficou muito por dizer, mas a ideia é provocar o desejo de saber nos nossos colegas. É com elevada estima que terminamos, saudações épicas, à memória de Luís Vaz de Camões.