quinta-feira, 31 de março de 2011

31 de Março, Poema do Dia

Verdade, Amor, Razão, Merecimento,
qualquer alma farão segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte,
têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento
e não sabe a que causa se reporte;
mas sabe que o que é mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.

Doctos varões darão razões subidas,
mas são experiências mais provadas,
e por isso é milhor ter muito visto.

Cousas há i que passam sem ser cridas
e cousas cridas há sem ser passadas,
mas o milhor de tudo é crer em Cristo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

30 de Março, Poema do Dia

A fermosura desta fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos oferece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo m'enoja e m'avorrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

terça-feira, 29 de março de 2011

29 de Março, Poema do Dia

No tempo que de Amor viver soía,
nem sempre andava ao remo ferrolhado;
antes agora livre, agora atado,
em várias flamas variamente ardia.

Que ardesse num só fogo, não queria
o Céu, porque tivesse exprimentado
que nem mudar as causas ao cuidado
mudança na ventura me faria.

E se algum pouco tempo andava isento,
foi como quem co peso descansou,
por tornar a cansar com mais alento.

Louvado seja Amor em meu tormento,
pois para passatempo seu tomou
este meu tão cansado sofrimento!

segunda-feira, 28 de março de 2011

28 de Março, Poema do Dia

No mundo quis um tempo que se achasse
o bem que por acerto ou sorte vinha;
e, por exprimentar que dita tinha,
quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.


Mas por que meu destino me mostrasse
que nem ter esperanças me convinha,
nunca nesta tão longa vida minha
cousa me deixou ver que desejasse.


Mudando andei costume, terra e estado,
por ver se se mudava a sorte dura;
a vida pus nas mãos de um leve lenho.


Mas (segundo o que o Céu me tem mostrado)
já sei que deste meu buscar ventura,
achado tenho já, que não a tenho.

domingo, 27 de março de 2011

27 de Março, «Camões em Diálogo com Sophia de Mello Breyner Andresen»

Gruta de Camões

Dentro de mim sobe a imagem dessa gruta
Cujo silêncio ainda escuta
Os teus gestos e os teus passos.
Aí, diante do mar como tu transbordante

De confissão e segredo,
Choraste a face pura
Das brancas amadas
Mortas tão cedo

sábado, 26 de março de 2011

26 de Março, «Camões em Diálogo com Bocage»

«Camões visto por outros poetas portugueses», é este tema que vamos abordar aos fins-de-semana. Hoje, escolhemos um poema de Bocage, dedicado a Camões.

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Ludíbrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu és tu... Mas, oh tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.

sexta-feira, 25 de março de 2011

25 de Março, Poema do Dia

Oh! como se me alonga de ano em ano,
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.

quinta-feira, 24 de março de 2011

24 de Março, Dia do Estudante

À Memória do aluno, do estudante universitário, do estudioso ilustre, do diligente autodidacta e do Poeta Genial, Luís Vaz de Camões.

24 de Março, Poema do Dia, «Doces lembranças da passada glória»

Doces lembranças da passada glória,
que me tirou fortuna roubadora,
deixai-me repousar em paz uma hora,
que comigo ganhais pouca vitória.

Impressa tenho n'alma larga história
deste passado bem que nunca fora;
ou fora, e não passara; mas já agora
em mim não pode haver mais que a memória.

Vivo em lembranças, mouro d'esquecido,
de quem sempre devera ser lembrado,
se lhe lembrara estado tão contente.

Oh! quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
se conhecer soubera o mal presente.

quarta-feira, 23 de março de 2011

23 de Março, Poema do Dia

Um mover d'olhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;

um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
uma pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;

um encolhido ousar; uma brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente  sofrimento;

esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento. 

terça-feira, 22 de março de 2011

22 de Março, Festa da Primavera

Hoje, um poema de Camões deu início à Festa da Primavera, na aula de Língua Portuguesa. O poema camoniano seleccionado foi «Está o lascivo e doce passarinho». A nossa Professora sugeriu que podiam ser elaborados trabalhos sobre o(s) poema(s) apresentado(s) por nós. Além disso, o importante mesmo era que nós lêssemos a obra camoniana e o nosso trabalho contribuía para estimular a leitura de Camões.

22 de Março, Poema do Dia, «Está o lascivo e doce passarinho»

Está o lascivo e doce passarinho
com o biquinho as penas ordenando,
o verso, sem medida, alegre e brando,
espedindo no rústico raminho;

o cruel caçador (que do caminho
se vem calado e manso desviando)
na pronta vista a seta endireitando,
lhe dá no Estígio lago eterno ninho.

Destarte o coração, que livre andava,
(posto que já de longe destinado)
onde menos temia, foi ferido.

Porque o frecheiro cego me esperava,
para que me tomasse descuidado,
em vossos claros olhos escondido.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Festival Camoniano de 21 de Março a 23 Abril

O Festival Camoniano inicia a 21 de Março, Dia Mundial da Poesia e termina a 23 de Abril, Dia Mundial do Livro.
Ao longo destes dias, serão realizadas, por nós, diversas actividades e trabalhos, subordinados ao tema: «Camões, um poeta genial». Todos os dias será apresentado o poema camoniano do dia.

Dia Mundial da Poesia

Para assinalar o Dia Mundial da Poesia, escolhemos poemas de Luís Vaz de Camões, para lermos aos nossos colegas de turma, no âmbito da Semana da Poesia (de 21 a 25 de Março), que a nossa Professora realiza nas nossas aulas de Língua Portuguesa e Estudo Acompanhado.
Para além da Semana da Poesia, decorre, em simultâneo, a Festa da Primavera, por isso, nós, seguimos a orientação da Professora Rosa e, assim, criámos um projecto em que nós os dois, vamos ler sempre, no início de cada aula, um poema camoniano («Poema do Dia») e vamos realizar outras actividades e trabalhos e a isso tudo chamámos Festival Camoniano.

21 de Março, Poema do Dia, «Alegres campos, verdes arvoredos»

Alegres campos, verdes arvoredos,
claras e frescas águas de cristal,
que em vós os debuxais ao natural,
discorrendo da altura dos rochedos;

silvestres montes, ásperos penedos,
compostos em concerto desigual,
sabei que, sem licença de meu mal,
já não podeis fazer meus olhos ledos.

E, pois me já não vedes como vistes,
não me alegrem verduras deleitosas,
nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes,
regando-vos com lágrimas saudosas,
e nascerão saudades de meu bem.